sexta-feira, 15 de novembro de 2013

12. José Cardoso


“Faces” / Acrílico s/tela / 100x50 cm / 2012 / 700,00 €


Breves notas biográficas.

Nasce em Lisboa em 1945. Arquitecto de formação, frequentou, até ao 3º ano, o curso de pintura da ESBAL. Arquitecto, artista plástico, fotógrafo, publicitário e designer com especialização em design gráfico, realizou variadíssimos projectos de arquitectura e design, ilustrações para livros, cartazes, exposições e brochuras promocionais e institucionais, e desenhou vários selos para os CTT-Correios de Portugal, Unicef e Nações Unidas, tendo sido galardoado com diversos prémios e menções honrosas nacional e internacionalmente.
Ao longo da sua vida profissional, trabalhou com várias figuras de destaque no panorama das Artes Plásticas e do Design em Portugal, com especial relevo para Sebastião Rodrigues, Alberto Cardoso, Thomaz de Mello (Tom), António Sena da Silva, Daciano Costa, Gracinda Candeias e Manoel Lapa, entre outros.
Pinta e expõe regularmente desde 2004 e tem várias obras adquiridas para colecções particulares, Museus e Fundações, em Portugal, Espanha, França, Reino Unido, Rússia, Estónia, Austrália e Estados Unidos da América.

Opiniões:
Gosto de passear pelos quadros do Zé – o arquitecto que entrou na minha percepção estética pela porta do grafismo e que de repente, há uns anos, me surgiu Pintor emocionado de uma realidade que, sim, eu já sabia que ambos sabíamos bem.
Eu só não suspeitava que ele a saberia reflectir tão bem.

{[Porque nos seus quadros o que passeia à frente dos meus olhos é a imitação (in)fiel da realidade multifacetada.] É a versatilidade de estilos que a muitos choca mas a mim – simples admirador, por vezes fortuito, de momentos harmoniosos – me encanta. Porque não vale a pena enaltecer outra Arte para além da Vida; nem é por se ser hermético que se consegue tirar do suor mais arte – bem como não há uma corrente capaz de se sobrepor às outras neste desejo. A unicidade da expressão – a possibilidade de que haja uma unicidade da expressão – é algo que me assusta. Porque a agilidade daquilo que apercebemos é múltipla e é necessário que os agentes que a transmitem – e o Zé é um deles – o façam de forma a respeitá-la.}

Quer se trate de retratar uma cena de uma Arte trágica, como a tourada, ou a de uma alegoria poética a caminhos cruzados com ou sem sentidos…
Atento. Sensual. Natural. Verdadeiro. Cromático. Solitário. Criativo. Arauto. Amante. Admirador. Ingénuo. Discreto. Irónico. O Zé, fundamentalmente, é, ou seja vê, ouve, toca, prova, cheira. Sente. E porque os cenários, os sons, os contactos, os sabores, os odores divergem de momento para momento, de situação para situação, as tonalidades da reacção, neste caso da imposição em suporte físico da dimensão da lembrança, têm que ser diferentes.
Por muito que isso pese aos que pretendem ver nas artes plásticas não mais do que projecções de futuro.
Aquilo de que mais gosto na pintura do Zé é da intencionalidade de cada traço, rigorosamente colocado, matematicamente correcto, cientificamente imposto como sinal de que as partes fazem o todo. E de que esse todo expressa uma solene homenagem a uma realidade, ainda que essa realidade seja afinal um fetiche: os lábios grossos, sempre como que pintados de fresco; os seios, em declínio ou opulentos; a curva da nádega o garbo do cavalo a gentileza do toureiro a garra condenada do touro a vela enfunada sinónimo de orgulho de um barco que sabe que jamais se perderá na tormenta porque haverá sempre no gesto rasgado do pintor um lugar sereno uma quadrícula de paz onde possa sossegar para sempre perante o olhar perscrutador do espectador.
Há claramente aqui, na pintura do Zé, uma vaga devastadora que não se vê mas que funciona também como tábua de salvação, como porto de abrigo.

[É isso que eu procuro quando sucessivamente o visito (ou lhe visito a pintura – o que vai dar ao mesmo). Ou, digo melhor talvez, é isso que encontro.]

António Manuel Santos

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